segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Uma saída à esquerda?


Por Ari Zenha de Oliveira
“O socialismo não pode ser dissociado da realização da democracia”
Giovanni Semeraro
 
Com a implantação do neoliberalismo, o capitalismo, a nível mundial, viu nele, uma provável saída para as contradições agudas que já vinham exigindo uma fuga para frente, no sentido de se desenrolar dos obstáculos inerentes que seu sistema produtivo apresentava desde a crise do petróleo em meados de 1970.
A financeirização, com total desregulamentação do sistema financeiro mundial, trouxe medidas de caráter nitidamente global onde as relações de trabalho foram aos poucos sendo precarizadas e mesmo aniquiladas pelas forças de mercado, tendo o Estado como impulsionador desta nova ordem neoliberal.
O neoliberalismo trouxe um ônus à classe trabalhadora que, com o passar do tempo, tem se tornado insuportável sob todos os aspectos: econômico, político, social e subjetivo. O ímpeto que as medidas do capitalismo-neoliberal manifestaram tanto no pensamento/ação da esquerda como na realidade do mundo do trabalho foram e são catastróficas.
As respostas a esta nova versão do capital – neoliberalismo – têm, ao longo de mais de três décadas, levado tanto o mundo do trabalho como a estrutura capitalística e também as esquerdas comprometidas com a transformação social a uma paralisia que tem repercutido em “ações” de perplexidade, cautela e desorientação. O capital não escapa de suas próprias incongruências.  
Ao se desnudar frente ao mundo, o neoliberalismo mostrou com toda a clareza e nudez a sua face oculta, evidenciando o monstrengo – histórico e real – o que é e representa para o mundo o capitalismo.
Uma provável transcendência para a esquerda atualmente pode ter como embasamento o pensamento – teórico e real – de Antonio Gramsci, o pensador e revolucionário marxista italiano.
Gramsci diz em seus escritos que os métodos do capital encontram raízes numa espécie de revolução passiva e de um reformismo conservador em que tornam mais multifacetadas as oposições, banalizando a cultura e, ao mesmo tempo, mantendo sob controle os trabalhadores, despolitizando-os em todos os níveis apresentados na sociedade civil. Ele propõe uma democracia radical. Na concepção gramsciana, este conceito exprime e representa superar as estruturas petrificadas pelo capitalismo num sentido revolucionário em que estas condições estruturadas e fundadas na dicotomia reificada, contraditória e complementar de superior-inferior, governante-governado, dirigente-dirigido, comando-obediência são rompidas no sentido da construção de um projeto coletivo de sociedade onde as classes dominantes são organicamente fragmentadas dando lugar à hegemonia da capacidade dos explorados construírem sua identidade filosófica, subjetiva, própria, não havendo mais contraposição em quem produz (trabalhadores) e em quem detém os meios de produção (capitalistas), construindo com isto sua hegemonia e dominação enfrentando e superando as contradições estruturais do sistema capitalista.
Gramsci fala em iniciativa política, não aceitar passivamente a realidade histórica imposta pela dominação capitalista, assistindo passivamente e impotentes os acontecimentos realizados pelo capitalismo.
Semeraro coloca um ponto fundamental de Gramsci: “Na dinâmica da sociedade, de fato, interagem ‘forças materiais’ e o momento ético - políticos que formam um inseparável ‘bloco histórico’. Entre ‘estrutura’ e ‘superestrutura’ deve existir, portanto, uma relação de reciprocidade na qual é possível combinar um amplo projeto político com planos econômicos criativos e participativos”.
Concluo com este trecho de Semeraro: “Gramsci não se afasta do marxismo, mas se diferencia das interpretações usuais pela insistência sobre a construção de sujeitos historicamente ativos e organizados que procuram conquistar a hegemonia com os métodos da democracia, subtraindo-a progressivamente à esfera de influência da burguesia e da burocracia. Por isso, além de evidenciar as aberrações do capitalismo, Gramsci confere uma ênfase particular à criatividade e à capacidade de iniciativas que devem apreender a desenvolver as classes subalternas. Estas, mais do que preocupar-se em resistir à opressão, são chamadas a buscar formas para sair da submissão e inventar os termos de uma nova sociedade”.
O aforismo burguês se transforma no seguinte: “A liberdade não termina onde começa a dos outros, mas se desenvolve ainda mais quando se encontra com a dos outros”.  

Ari de Oliveira Zenha é economista

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