segunda-feira, 16 de julho de 2012

O futuro que não queremos



Reafirmamos a urgente necessidade do desenvolvimento do modelo da agroecologia e da reforma agrária popular, em contraponto ao retrocesso do agronegócio.

A Rio+20, sob o lema da sustentabilidade, propagandeia a nova roupagem do capitalismo: verde. Como denunciam os setores populares mobilizados, a cor não surge da natureza viva, mas das notas de dólares. A encenação agora é mais grave que em 1992, quando se criou a Agenda 21, um documento agregador de objetivos para o milênio, que não foram cumpridos. Do recente encontro dos governantes – ao qual faltaram os representantes das nações mais poluidoras do globo, mas que contou com a grande participação das transnacionais – resultou uma nova declaração: “O Futuro Que Queremos”. Que também não será cumprida.
A Rio+20, evento das Nações Unidas realizado após 20 anos da criação das três importantes convenções ambientais mundiais, não avaliou as causas reais do fracasso dos governos no cumprimento das metas nelas apontadas. Ao invés de pensar em mecanismos de responsabilização dos principais agentes responsáveis pelas crises, propagou-se uma suposta nova solução: a economia verde, cujo maior beneficiário, serão as empresas transnacionais.
Por não se sentirem representados, os movimentos sociais organizaram um evento paralelo ao oficial, denominado Cúpula dos Povos. Indígenas, quilombolas, mulheres, negros, trabalhadores, estudantes e campesinos se uniram em prol do diálogo, da troca de experiências e da construção conjunta de uma sociedade com justiça social e ambiental. Foram debates, encontros, atividades e manifestações – mais de 80 mil corações bateram juntos na maior marcha popular que esse país viu em mais de duas décadas. Somaram- se irmãos da grande pátria latino-americana e de toda a Mãe Terra, de todos os continentes, unidos na denúncia às falsas soluções, apresentadas pelas corporações e pelos governos. Mostraram que um novo mundo não só é possível, como acontece.
Contra o golpe no Paraguai. Não poderíamos deixar de mencionar a relação entre o recente golpe de Estado realizado no Paraguai (com o viés da ordem institucional democrática) e a sua direta influência com os grupos corporativos transnacionais existentes na América Latina. No último período, o vizinho brasileiro manifestou discordâncias em relação ao plantio de transgênicos em seu território. Essas medidas representaram enfrentamento direto às seis principais corporações que dominam o mercado de transgênicos e agrotóxicos no mundo e, consequentemente, latino-americano (Monsanto, Syngenta, DuPont, Dow Chemicals, Bayer e Basf).
Em 2010 o número de pessoas que passavam fome no mundo era de 1,2 bilhões. Da década de 1990 até esse período, houve um aumento de cerca de 100 milhões de pessoas. Hoje, esse número representa 925 milhões, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), de 2012. Os dados comprovam que o agronegócio, voltado para a exploração da natureza, dos trabalhadores, calcado no modelo latifundiário e que atende somente às demandas específicas dos países ricos do Norte, não representa uma solução que permita produzir alimentos para acabar com a fome no mundo. Nesse sentido, reafirmamos a urgente necessidade do desenvolvimento do modelo da agroecologia e da reforma agrária popular, em contraponto ao retrocesso do agronegócio. Esta é a visão e o esforço da Jornada de Agroecologia do Paraná, que terá sua décima primeira edição, em Londrina.

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