terça-feira, 10 de julho de 2012

PSDBs municipais e o saudosismo autoritário


 


No seu assanhamento para retornar aos diversos governos municipais, que aparecem embalado na sórdida roupagem do combate à corrupção, os PSDBs municipais não escondem sua saudade pela fase autoritária de FHC. Não é para menos que este partido, como expressão orgânica da oligarquia financeira e da lógica antidemocrática neoliberal, tem centrado suas críticas à pretensa “falta de autoridade” do presidente Lula no trato com os movimentos sociais, em especial na relação com o MST. Ao mesmo tempo, ele tenta pousar de baluarte da democracia liberal, condenando qualquer ação do Estado contra a ditadura da mídia. Para desmascarar esses adeptos do “fascismo de mercado” vale relembrar algumas cenas deprimentes do triste reinado tucano. 


- Logo no início do seu primeiro mandato, FHC fez questão de “quebrar a espinha dorsal” do sindicalismo brasileiro. A greve dos petroleiros, iniciada em 3 de maio de 95, foi tratada com violência similar ao dos piores períodos da ditadura militar. Nos seus 31 dias de duração, o governo ocupou refinarias com tropas do Exército, rompeu todos os canais de negociação e penalizou os sindicatos com pesadas multas diárias. Um assessor de Margareth Thatcher, dama-de-ferro que violentou a greve dos mineiros ingleses, chegou a visitar o Brasil para dar consultoria ao aprendiz de ditador, o recém-eleito FHC. A revista Veja, excitada com tamanha truculência, chegou a dar capa para um presidente vestido garbosamente de militar! 

- O governo FHC nunca recebeu as entidades dos servidores públicos federais para qualquer negociação. O funcionalismo ficou com os seus salários congelados por oitos anos ininterruptos, além de ser vítima do desemprego causado pelo criminoso enxugamento da máquina pública. Através de centenas de medidas provisórias, sem qualquer consulta ao sindicalismo e mesmo ao parlamento, o PSDB fez a primeira onda da flexibilização trabalhista no país – impondo a contratação precária, o salário variável e a jornada de trabalho flexível. Já no final do seu segundo mandato, FHC ainda tentou dividir e asfixiar o sindicalismo com a PEC-623 e impor um projeto de lei que instituía “a prevalência do negociado sobre o legislado”. 

- Outro alvo permanente da fúria tucana foi o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra. Com o servil apoio da mídia burguesa, FHC fez de tudo para satanizar o MST, as pastorais da Igreja e outros lutadores do campo. Seu funesto ministro do Desenvolvimento Agrário, o ex-socialista convertido ao credo liberal Raul Jungmann, impôs portaria criminalizando a luta pela terra, ao proibir a desapropriação de latifúndios ocupados por sem-terra, instituiu a lógica do mercado no campo através do Banco da Terra e fechou todos os canais de negociação com os movimentos rurais. Chacinas de camponeses, como a de Eldorado do Carajás em abril de 1996, e assassinatos de lideranças do campo ficaram impunes na gestão FHC. 

O sociólogo Ricardo Antunes, no seu novo livro “A desestificação neoliberal no Brasil”, refresca certas mentes ao desnudar o “outro lado do governo FHC: o que resgata a virulência e a truculência contra os movimentos sociais, contra os que lutam por preservar ou conquistar um mínimo de dignidade humana. Seria interessante um estudo comparativo do que há de continuidade e descontinuidade entre a concepção ‘atrasada’ de segurança militar da época da ditadura, com a defesa ‘moderna’ da repressão do tucanato”. O mesmo estudo comparativo também deveria ser feito entre os governos FHC e Lula. As suas diferenças abissais de comportamento ajudariam a decifrar a atual investida “ética” do bloco liberal-conservador dentro de nossos municípios.


Por : Altamiro Borges 

Texto removido de parte da publicação feita pelo blogueiro no site: www.midiaindependente.org
Texto adaptado aos contextos municipais.

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