segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Grupos Revolucionários da Esquerda Armada no Brasil



guerrilha
1 Bando armado de voluntários não disciplinados militarmente, que em geral atacam o inimigo pela sua retaguarda, com o objetivo de importuná-lo, interromper as suas linhas de comunicação e destruir seus suprimentos. 2 Ações militares executadas por guerrilhas. 3Facção política, sem caráter de partido político disciplinado. sm O que faz parte de uma guerrilha; guerrilheiro.  Dicionário Michaelis

"É necessário que todo guerrilheiro urbano mantenha em mente que só poderá sobreviver se estiver disposto a matar os policiais e todos aqueles dedicados à repressão. E se está verdadeiramente dedicado a expropriar a riqueza dos grandes capitalistas, os latifundiários e os imperialistas". Marighella - Manual do Guerrilheiro Urbano

"O guerrilheiro é um reformador social." Ernesto Che Guevara

Grupos Revolucionários da Esquerda Armada no Brasil
Os grupos de Esquerda armada no Brasil foram formados, em sua maioria, por estudantes secundaristas e universitários influenciados pelas teses marxistas-leninistas. Mas também existiram guerrilheiros oriundos do exército, de sindicatos e de alas progressistas da Igreja Católica. Os movimentos de guerrilha urbana e rural se intensificaram no Brasil após o golpe militar de 1964 que derrubou o presidente democraticamente eleito João Goulart, o Jango. A Esquerda optou pela luta armada quando não havia mais espaço para contestação ao regime militar. Após a instituição do AI-5 - Ato Institucional número 5 - ficava proibida qualquer tipo de manifestação, mesmo que pacífica, ao regime militar, instaurou-se a pena de morte, prisão sem julgamento e censura prévia aos meios de comunicação. A tortura, mesmo que não admitida oficialmente, se tornou regra em delegacias e divisões do DOI-CODI - Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna.  Em "Operações" leia-se "tortura" para buscar informações sobre o paradeiro de outros militantes de esquerda. O tema Esquerda Armada ainda é polêmico. Alguns críticos acusam a guerrilha de ter "endurecido" a ditadura militar com seus atentados, dando a eles uma desculpa para não abrir o regime. Outros dizem que a Esquerda armada também cometeu crimes como os "justiçamentos": assassinatos de militante que traíram o grupo. Alem de não pretender o retorno do presidente deposto ao poder e a volta da democracia. Mas implantar uma ditadura comunista nos moldes soviéticos. Em minha opinião a guerrilha é parte importante de nossa História e precisa ser lembrada, homens e mulheres deram suas vidas na luta contra um regime opressor e autoritário. Ainda que suas chances de sucesso fossem praticamente nulas, eles enfrentaram o terror. Não se luta contra uma ditadura de forma pacífica. Os militares queriam controlar o país inteiro sem que houvesse resistência? Aqueles que morreram do lado militar apenas pagaram o preço por terem tirado a nossa liberdades.
Abaixo um resumo dos principais grupos de esquerda que lutaram contra a ditadura militar: 
Fontes consultadas:
Direito à memória e à verdade : Luta, substantivo feminino Tatiana Merlino. - São Paulo : Editora Caros Amigos, 2010.
A ditadura militar no Brasil: A história em cima dos fatos - Revista Caros amigos



MNR - Movimento Nacional Revolucionário
Prisão de guerrilheiros em Caparaó
Formou-se logo após o golpe militar. durou entre 1966 e 1967. Seu líder era o ex-governador gaúcho Leonel Brizola que, mesmo exilado no Chile, conseguiu junto a Fidel Castro financiamento do governo cubano. Os guerrilheiros se inspiravam no revolucionário Che Guevara, o grupo baseou-se no Parque Nacional do Caparaó, sul de Minas, de difícil acesso, cheio de esconderijos. Mas o grupo não conseguiu apoio do povo e foi descoberto quando um guerrilheiro foi fazer compras em alguma aldeia próxima. Foram levados para o presídio de Linhares em Juiz de Fora, sofreram torturas. Milton de Castro morreu em decorrência. Os militares alegaram suicídio. O grupo era comandado por Amadeu Felipe da Luz Ferreira, um ex-sargento expulso do exército por resistir ao golpe em 1964. Diria mais tarde: "Em 1964, o Exército ficou contra o Brasil. No pós-64, se tornou entidade desmoralizada, perdeu a característica de entidade estrategicamentenacional, mostrou para a população que é uma entidade a serviço da classe dominante. Esse foi o grande desastre do Exército."




O jornalista Flávio Tavares conta como foi o encontro de Brizola com Che guevara

Veja como foi a resistência de Brizola no documentário Legalidade

ALN - Ação Libertadora Nacional
Nascida da cisão do PCB, a ALN foi a organização de maior expressão e contingente entre os grupos de guerrilha urbana que atuaram entre 1968 e 1973. Sua história está indissoluvelmente ligada ao nome de Carlos Marighella, antigo dirigente do PCB. Crítico da linha oficial desse partido, propôs a resistência armada após 1964 e, no campo das alianças, a troca do binômio burguesia-proletariado peloproletariado-campesinato. Desde seu nascimento, a ALN estabeleceu fortes laços com Cuba. “A ação faz a vanguarda” torna-se lema central da organização, que passa a realizar operações de forte impacto, como o sequestro do embaixador americano no Brasil, em conjunto com o MR-8. A escalada repressiva que se seguiu, no entanto, terminou por atingir Marighella, executado em 4 de novembro, em São Paulo. Sua morte abalou a capacidade de ação da ALN, que passa a dar ênfase à implementação de uma “Frente Revolucionária” com as demais organizações de guerrilha urbana, conhecida como “Frente Armada”. Mas a sequência de prisões e a ferocidade da repressão acabariam comprometendo a sobrevivência do grupo, que se desarticulou definitivamente entre abril e maio de 1974.
Cena do filme Batismo de Sangue reconstitui a morte de Marighella

Carteira do Partido Comunista - Marighella Marighella - Ficha no DOPS
Acima, a carteirinha de Marighella do Partido Comunista do Brasil. Ao lado de sua ficha no DOPS.

ASSASSINATO DE BOILESEN
Henning Albert Boilesen era um empresário dinamarquês, presidente da Ultragás, que financiava a tortura no Brasil. Foi morto numa ação praticada em pela ALN em conjunto com o MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes.
No final da novela Amor e Revolução Carlos Eugênio da Paz assumiu que executou o empresário

Leia a entrevista de Carlos Eugênio da Paz no artigo Lembranças da Luta Armada
Saiba mais sobre o assassinato de Boilesen no documentário Cidadão Boilesen
Veja na íntegra o filme Batismo de Sangue
Veja o documentário sobre a vida do guerrilheiro Marighella
Veja um vídeo da exposição Carlos Mariguella

 


MR-8 - Movimento Revolucionário 8 de Outubro

O grupo começou a nascer em 1966 como “DI da Guanabara”, ou seja, Dissidência da Guanabara do PCB. Contrário à aliança com a burguesia brasileira, defendida pelo partido, a organização via os estudantes como “vanguarda tática”, que não deveria nem substituir os operários na condução da luta pelo socialismo nem esperá-los para poder fazer alguma coisa. A partir de 1969, o acirramento da repressão levou à militarização de sua estrutura e à execução de operações armadas, como o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, realizado conjuntamente com a ALN em setembro daquele ano. Em 1971, o MR-8 passou a debater a necessidade de se manter ou não as ações armadas, gerando um racha na organização. O grupo remanescente definiu uma linha de autocrítica da fase anterior e lançou um projeto de reunificação dos comunistas brasileiros. No entanto, em 1976, o MR-8 aprovou uma resolução política que assumia novamente a defesa de um caminho insurrecional ao socialismo. Por volta de 1978, porém, o MR-8 promoveu nova reviravolta em sua linha política, dando cada vez mais peso às lutas democráticas. A data 8 de outubro homenageia Che Guevara.
O sequestro surgiu de uma idéia audaciosa do jornalista-guerrilheiro Franklin Martins: "por que não fazemos o contrário, em vez de uma ação para libertar o Vladimir, nós capturamos o embaixador e trocamos?
Acima uma cena do filme: O que é isso companheiro?
Tarde de 4 de setembro de 1969, uma tarde comum na rua Marques, Rio de Janeiro. O carro da embaixada americana, um Cadillacpreto, entra na rua. Tudo vai acontecer muito rápido. Um fusca vermelho bloqueia a passagem. O Cadillac pára. Dois homens entram pela porta de trás e dominam o embaixador enquanto um terceiro empurra o motorista para a direita. O fusca arranca e o Cadillac segue atrás. A 2 quilômetros espera-os uma Kombi, onde embarcam todos, menos o motorista da embaixada. A Kombi segue para um cativeiro na rua Barão de Petrópolis. O jornalista e futuro deputado Fernado Gabeira narra em livro que desceu correndo as escadas, abriu a porta da garagem, a Kombi entrou, ele fechou rápido. Ao ver Charles Burke Elbrick, encostou na parede e disse: "Meu Deus, sequestramos o embaixador dos Estados Unidos!"
Charles ElbrickComício Franklin MartinsFranklin Martins
À esquerda o embaixador americano Charles Elbrick, no centro comício-relâmpago de Flanklin Martins no movimento estudantil e a direita uma foto do jornalista na época. Flanklin Martins foi jornalista da rede Globo e hoje é ministro do governo Lula.
Presos políticos libertados - sequestro do embaixador americano
Presos políticos libertados em troca do embaixador americano
Com o intuito de romper a censura dos meios de comunicação o guerrilheiros obrigaram os militares a ler um manifesto em rede nacional de rádio e televisão: "Este não é um incidente isolado, se soma a inúmeros atos revolucionários" e que Elbrick representa "os interesses do imperialismo, que, aliado aos grandes patrões, aos grandes patrões, aos grandes fazendeiros e aos grandes banqueiros nacionais, mantêm o regime de opressão e exploração"; disseram que soltariam Charles Elbrick caso os 15 prisioneiros políticos fossem libertados e levados a um país segur. A ditadura teria 48 horas para responder, senõa, o embaixador seria assassinado. O manifesto concluia: "Quem prosseguir torturando, espancando e matando ponha as barbas de molho. Agora é olho por olho, dente por dente."

OS QUINZE LIBERTADOS
José Ibrahim, líder do movimento operário paulista, um dos quinze presos políticos trocados pelo embaixador americano, estava no presídio Tiradentes. Ao ouvir seu nome, sentiu felicidade e medo: se algo desse errado os quinze ficariam em perigo. Agnaldo Pacheco, da Aliança Libertadora Nacional, ALN; Flávio Tavares, jornalista gaúcho, coordenador do Movimento Nacionalista Revolucionário, MNR; Gregório Bezerra, líder sindical (morto em 1983); Ivens Marchetti, da Dissidência de Niterói (morto em 2002 de câncer); João Leonardo da Rocha, da ALN (morto pela polícia em 1974); José Dirceu, líder estudantil preso em Ibiúna; Luís Travassos, ex-presidente da UNE (morto em acidente de carro no Rio em 1982); Maria Augusta Carneiro Ribeiro, unica mulher da Dissidência Guanabara, a DI-GB, presa em Ibiúna; Mário Zanconato, fundador da corrente Revolucionária, ligada à ALN; Onofre Pinto, fundador da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária (morto em emboscada em 1974, no Paraná); Ricardo Vilas, da DI-GB; Ricardo Zarattini, do movimento operário; Rolando Frati, comunista de São Paulo; Vladimir Palmeira, líder estudantil que comandou a Passeata dos 100.000.
Sobre o sequestro do embaixador americano assista o documentário Hércules 56 
A luta armada foi defendida, em entrevista, pelo jornalista guerrilheiro Franklin Martins
Saiba como os EUA executam golpes de Estado no documentário Guerra contra a Democracia
Veja a entrevista com a guerrilheira Vera Silva Magalhães 
Veja a entrevista com o preso político libertado Vladimir Palmeira
Veja o vídeo que denuncia a armação de Gabeira
Leia a resenha sobre o livro O Sequestro da História que critica Gabeira e o filme O que é isso companheiro?


"O nosso sacrifício é consciente. É a quota a pagar pela liberdade que construímos."
Che Guevara

VPR -Vanguarda Popular Revolucionária
A VPR nasceu em 1968 como um grupo praticamente paulista, resultante da fusão entre uma ala esquerda da Política Operária (Polop) e remanescentes de grupos militares de inspiração brizolista. Ao longo desse ano, realizou inúmeras operações guerrilheiras e, em junho de 1969, fundiu-se com o Colina (Comando de Libertação Nacional) de Minas Gerais, resultando na constituição da VAR-Palmares. Mas, em setembro, ocorreria uma nova divisão, com o ressurgimento da VPR, que passou a ter como principal expoente a figura de Carlos Lamarca, um dos principais responsáveis pelo estabelecimento de uma área de treinamento de guerrilha no Vale doRibeira, interior paulista, desbaratada pelo Exército entre abril e junho de 1970. Com a estrutura da VPR desarticulada em São Paulo, seus remanescentes seguiram para o Rio de Janeiro, onde a organização executaria, ainda em 1970, os sequestros dos embaixadores da Alemanha e da Suíça. Tensões internas culminaram com a saída de um grupo que depois se ligou ao MR-8, incluindo Lamarca. Uma última tentativa de rearticulação da organização foi abortada pelo chamado “Massacre da Chácara São Bento”, em janeiro de 1973.
Carlos Lamarca
Lamarca ensina tiro a funcionárias do Bradesco antes de se tornar uma guerrilheiro
Lamarca

Carlos Lamarca, capitão do exército, entra na VPR em dezembro de 1968. Os colegas jamis suspeitaram dele. Era fácil desviar armas. Denunciado o coronel Lepiani o defende: "Lamarca subversivo? Que nada, é de confiança, quase um filho e com excelentes qualidades militares." Em janeiro de 1969, Lamarca abandonou o exército. Enviou mulher e dois filhos para Cuba. Considerado traidor pelas Forças Armadas, vira um dos mais importantes dirigentes da VPR. Conhece a militante Iara Iavelberg, psicóloga e professora universitária. Apaixonam-se, vivem um romance na clandestinidade. A VPR queria formar um exército popular no campo. Inspirado pela Revolução Cubana e outras guerrilhas latino-americanas, Lamarca baseia-se em Guevara e Régis Debray, na teoria do foquismo: pequeno grupo bem treinado e bem armado, atuando numa área rural, atrairia e despertaria as massas para a insurreição, que marcharia para as cidade.






Salvador 71 - curta-metragem sobre Lamarca

Veja o filme baseado na vida do guerrilheiro Carlos Lamarca

Em 1970 os guerrilheiros se inspiram no bem sucedido sequestro do embaixador americano e fazem novos sequestros para libertar os companheiros que estavam sendo torturados nos quartéis.
sequestro do embaixador japonês - Okuchi                SEQUESTRO DO EMBAIXADOR JAPONÊS
No início de 1970. A VPR começa a treinar para a guerrilha rural, no Vale do Ribeira. O dirigente do grupo, Mário Japa, sofre um acidente. ele é socorrido pela polícia que encontra com ele armas e documentos compremetedores. Preso, Chizuo Ozava, o Mário Japa, poderia dizer onde era o campo de treino. Com ajuda do MRT, Movimento Revolucionário Tiradentes, e da Rede, Resistência Democrática, a VPR planeja osequestro do cônsul japonês. No dia 11 de março, Okuchi deixa o consulado as 18 horas e vai para casa, na rua Piauí, Higienópolis. Na esquina da lagoa com a Bahia, o motorista freia para não bater no fusca azul que lhe corta a frente. Reclama de "barbeiragem" sem ver o rapaz que segurava uma metralhadora . Em segundos, três homens levam o cônsul para outro fusca, vermelho. No banco de trás vendado, cabeça no colo de um sequestrador, segue para casa de um sequestrador, em Indianópolis. 12 de março. Jornais estampam a exigência: a libertação de cinco presos e asilo no México.Damáris Lucena, com seus três filhos pequenos, encabeçada a lista. É viúva de Antônio Lucena, morto a tiros dias antes por militares que invadiram a sua casa e executaram o marido na frente dela e das crianças. Os outros quatro: Otávio Ângelo, dirigente da ALN;madre Maurina, religiosa torturada pelo delegado FleuryDiógenes Carvalho de Oliveira, da VPR; e Chizuo Ozava. A caçada aos guerrilheiros seria implacável: dos quinze participantes do sequestro, prenderam oito e, dos oito, mataram cinco na tortura.




sequestro do embaixador alemão - Von Holleben                       SEQUESTRO DO EMBAIXADOR ALEMÃO
No dia 11 de junho de 1970, às 17h45, o rádio da Kombi estaciona numa ruela de Santa Teresa, Rio, transmitia Inglaterra versus Tchecoslováquia, nas oitavas de final da Copa do Mundo no México, chave do Brasil. Tocava um jingle: "Noventa milhões em ação/ Pra frente Brasil/ Saaalve a seleção..." O Mercedes do embaixador alemão Von Hollebenpassará por perto. A ação se dará em três tempos: uma caminhonete abalroa o Mercedes; o embaixador é levado num Opala até a Kombi; a Kombi leva Von Holleben, dentro de um caixote, até o esconderijo. Vale a libertação de 40 presos políticos, levados à Argélia. A segurança Von Holleben limitava-se a dois agentes federais. A camionete abalroou o Mercedes e, sob uma rajada de submetralhadora, a escolta se rendeu gritando: "Chega! Chega!" o guarda-costas tenta sacar a arma e um tiro o abate. Von Holleben, que deitou no chão do carro, é levado até a Kombi e, enfiado num caixote, desembarca numa casa do subúrbio. Uma gentil militante recebeu Von Holleben com chá e salgadinhos e o calmante Valium. A cordialidade inclui o domínio do inglês de um sequestrador, Alfredo Sirikis que narrou o episódio no livro Os Carbonários. Um sequestrador, Eduardo Leite. o Bacuri, entrou no quarto sem capuz. Holleben voltou-se para Sirkis, irritado: "Nada de rostos, por favor!". A exigência poupou o embaixador do aborrecimento de reconhecer sequestradores. Na despedida, observou: "Pensei que vocês fossem mais organizados!".


Sirkis treinando na clandestinidade
Acima Alfredo Sirkis e seu treinamento na clandestinidade em 1969

40 presos políticos libertados em troca do embaixador alemão

Leia a entrevista do site Arquivo 68 com guerrilheiro Alfredo Sirkis

sequestro do embaixador suiço - Giovanni Enrico Bucher          
SEQUESTRO DO EMBAIXADOR SUIÇO
O ano 1970 termina, há mais de quinhentos presos políticos. Quem recebeu pena curta pensa cumprir, tocar a vida. Os outros só desejam ser trocados por algum diplomata sequestrado. A ditadura prende e arrebenta. A única coisa que ainda une os guerrilheiros é a ética em relação aos companheiros presos e ameaçados de morrer na tortura. O embaixador suiço Giovanni Enrico Bucher é conhecido nos salões da diplomacia pelo bom humor e o domínio do português. Interceptaram seu Buick na manhã de 7 de dezembro de 1970; um tiro mata o agente federal que o escolta. Entre os sequestradores está Carlos Lamarca, o Paulista. Disfarçam Bucher vestindo-o com um guarda-pó e boné na cabeça. Tomaram mais cuidado: alugaram o cativeiro seis meses antes. Os jovens inquilinos estabeleceram uma política de boa vizinhança. Na passagem para 1971, deram festa ao som de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, com o sequestrado e um sequestrador no quartinho dos fundos. Para todo efeito, ali havia uma criança dormindo. Ganharam a cumplicidade de Bucher, a liberdade de um dependia da liberdade de setenta. Havia passado mais de um ano desde o primeiro sequestro e a repressão estava preparada para negociações.
                        


Selecionados os nomes dos setenta presos, souberam pelos jornais que Bacuri havia morrido após 109 dias de tortura. Talvez fosse mentira. Completada a lista, surpresa: dezoito não queriam deixar o país, ou porque acreditavam na liberdade eminente, ou preferiam posar de "arrependidos" nos depoimentos à televisão. No dia 13 de janeiro de 1971, mais de um mês depois, setenta presos embarcaram para o Chile e o ciclo dos sequestros terminou. Mas havia mais terror estatal a vir. Muita nuvem ameaçadora no horizonte. Não apenas no Brasil.
70 presos políticos libertados - sequestro embaixador suiço
Recorde: 70 presos políticos libertados
Veja o vídeo Brazil: A Report on Torture (1971) onde os 70 presos libertados mostram como foram torturados. 

SEQUESTRO DE AVIÃO
Apesar dos riscos muitos exilados que estavam no Chile queriam voltar para o Brasil. Mesmo que fosse para viver na clandestinidade. Alguns militantes eram destacados para tratar das viagens, uma ação de altíssimo risco. James Allen da Luz cuidou da viagem de volta de muitos compatriotas. No dia primeiro de janeiro de 1970 tratou de uma missão temerária. Desviar um avião para Cuba para por em local seguro seis militantes, inclusive ele. Era um avião que partia de Montevidéu para o Rio. O avião partiria para o Rio levando dezessete passageiros, seis deles eram militantes da VPR. Inclusive uma mãe atrapalhada com seus dois filhos pequenos. Obrigaram o comandante a mudar o destino para o aeroporto José Martí, Havana. 
O avião deixou o solo uruguaio e James Allen entra na cabine da tripulação para anunciar o sequestro. Ele lê no microfone um manifesto e anuncia o novo destino do avião. Sem autonomia de vôo o avião precisaria fazer quatro escalas. A mais tensa foi na capital do Peru. Durou 27 horas, o impasse, aeroporto tomado por militares armados e tanques de guerra. Foram longas negociações. Os militares diziam que não havia condilões técnicas para o avião chegar em Cuba. O governo peruano ofereceu asilo para a guerrilheira Marília e seus filhos. Isso não foi aceito pois os guerrilheiros sabiam que assim que saíssem do aeroporto iam ser executados sem contemplação. Com a inesperada solidariedade da tripulação três dias depois todos chegaram salvos em Cuba. Pelo enorme risco deste tipo de ação, os guerrilheiros evitaram nosvos sequestros de avião. Além de Marília e as duas crianças apenas dois sequestradores sobreviveram até a anistia em 1979. Os outros morreram nas perseguições e James Allen continua desaparecido até hoje.

AP - Ação Popular
A criação da organização, em meados de 1962, coroou a evolução em direção à esquerda que setores da Ação Católica já vinham vivendo há algum tempo. Mas foi somente em 1965 que a AP buscou definições políticas mais consistentes, culminando numa resolução que apontava claramente a utilização do pensamento marxista como método de análise e, em seguida, da luta armada como caminho necessário para a revolução. Entre 1966 e 1967, lideranças maoístas conquistaram hegemonia na organização e introduziram mudanças bruscas, causando afastamentos, especialmente dos militantes cristãos. Em 1968, a AP se aliou ao PCdoB e passou a defender o mesmo caminho estratégico do “cerco das cidades pelo campo”. Em 1972, um debate sobre a incorporação da organização ao partido provocou mais uma cisão em que a maioria dos quadros ingressou no PCdoB. Os que permaneceram na AP passaram à formação de uma aliança com a Polop e o MR-8, constituindo uma Tendência Proletária, que, no entanto, se romperia algum tempo depois. Entre 1973 e 1974, a AP foi duramente atingida pela ação dos DOI-Codi, que aprisionaram e executaram, sob torturas, importantes dirigentes como Paulo Stuart Wright e Honestino Guimarães, ex-presidente da UNE.
Atentado no Aeroporto de Guararapes - AP Ação Popular
Atentado cometido pela Ação Popular no Aeroporto de Guararapes, Recife, em 25 de julho de 1966
Costa Silva ainda candidato a presidência deveria pousar na manha de 25 de julho de 1966 no Aeroporto Guararapes em Recife. Mas o auto-falante avisa que o avião sofreu uma pane e ele está vindo de carro. O dono de uma banca de jornais pede a um guarda-civil que leve ao balcão de achados e perdidos a maleta que alguém esqueceu. Dez para as nove o guarda dá alguns passos e a maleta explode: continha uma bomba acionada por controle remoto. Morrem uma almirante da reserva e um jornalista; treze pessoas ficam feridas. O secretário de Segurança Pública perde quatro dedos da mão e o guarda civil teve a perna amputada. Este atentado marcou a estréia dos atentados de esquerda, em consequencia cresceria a perseguição indiscriminada a todos quantos discordassem dos rumos que o país tomava.
O político José Serra, durante um breve período, participou da AP até se exilar no Chile e depois nos EUA. Veja que é, no mínimo, estranha a história de José Serra no exílio 

POLOP - Política Operária
A Organização Revolucionária Marxista-Política Operária (Polop) nasceu em 1961, reunindo grupos de estudantes provenientes da Liga Socialista de São Paulo e da Mocidade Trabalhista de Minas Gerais. Inicialmente, voltou-se para o debate teórico e doutrinário, rejeitando o conteúdo nacionalista e desenvolvimentista da propaganda do Partido Comunista: rechaçava, assim, a ideia de aliança com setores da burguesia brasileira. O caráter da revolução era apontado, portanto, como socialista. Em 1967, a direção da Polop começou a ser criticada pelas bases por imobilismo e por incorrer em posicionamentos reformistas. A questão da deflagração imediata da luta armada, nos moldes propostos em 1967 pela Organização Latino-Americana de Solidariedade (Olas), sediada em Cuba, gerou disputas internas. No fim de 1967 e início de 1968, o que restou da Polop fundiu-se à Dissidência Leninista do PCB no Rio Grande do Sul para formar uma nova organização, intitulada Partido Operário Comunista (POC). Em abril de 1970, um grupo de militantes se desligou do novo partido e voltou a constituir a Polop, agora rebatizada com o nome Organização de Combate Marxista- Leninista Política Operária (OCML-PO).
Dilma responde ao senador Agripino após ser questionada sobre o seu envolvimento na luta armada
Em 1967, aos 19 anos, Dilma Roussef militava na Polop. Ela viveu momentos duros na luta contra a ditadura militar. Entre seus feitos, planejou em 1969 o roubo do cofre do governador golpista Adhemar de Barros. Presa em 1970, entrou na lista das mulheres mais toruradas daquele período. Passou três anos nas masmorras da ditadura militar e do presídio Tiradentes, em São Paulo. Foi torturada física, psíquica e moralmente durante 22 dias. 35 anos mais tarde se tornaria a primeira mulher presidente do Brasil. 

O ROUBO DO COFRE DE ADHEMAR DE BARROS
Adhemar de Barros havia morrido em Paris. Ele fazia negociatas e guardava o lucro em cofres. Sabia-se o destino de dois cofres: um na casa de Ana Capriglione, que morava com o irmão, cardiologista Aarão Benchimol. Ana, Aarão e José eram tios do jovem Gustavo, militante do grupo guerrilheiro Var-Palmares. Gustavo contou à chefia, que decidiu "expropriar" o cofre de Ana. A ação foi bem planejada e envolveu treze guerrilheiros de várias regiões que só se conheciam por codinomes. 
Três e meia da tarde de 18 de julho de 1969, sexta-feira. lado aristocrático de Santa Teresa, Rio. No alto de uma colina, o luxuoso Aero Willys estaciona perto da entrada da mansão. Desce o sargento Darcy Rodrigues, o Leo, vestido de boyzinho. No volante fica o professor de geografia Reinaldo José de Melo, o Maurício; a seu lado, a bela estudante Sônia Lafoz, a Mariana, fuzil e granadas à mão.  encostam uma veraneio C-14, veículo que a repressão usa como camburão, e uma Rural Willys. Transportam mais dez guerrilheiros, a maioria de terno e gravata.
Da C-14 descem o motorista, estudante Wellington Moreira Diniz, o Justino; e o sociólogo Juarez Guimarães de Brito, o Juvenal. Vão até a guarita. Justino carrega as duas pistolas 45 e uma metralhadora, mas nem precisa sacá-las. Apresenta um falso mandado de busca e apreensão "a mando do general, atrás de documentos subversivos em poder do doutor Aarão". Desarmam o vigia; os dois veículos sobem pela alameda sinuosa e estacionam em frente a escadaria.
Rendem os onze empregados e prendem numa dispensa, algemado, o membro da família Sílvio Schiller, irmão de Gustavo. Cortam os fios de dois telefones. Localizam então num armário o cofre de 350 quilos e tentam deslizá-lo sobre a escadaria com um carrilho de rolimãs.
não deu certo: o carrinho desceu aos trancos, destroçou degraus de granito e o cofre virou de ponta a cabeça lá embaixo. Conseguiram levantá-lo no muque. Até o destino, uma oficina mecânica de faixada, levaram 28 minutos, dois a menos que o previsto, e contando o diálogo quando a C-14 parou num sinal e o guarda de trânsito comentou ao ver a traseira arriada:
"O defunto que vocês estão carregando está pesado mesmo!"
"É um cofre que acabamos de roubar Quer ver?", brincou Leo, com sangue-frio.
"Não, façam bom proveito. Tomara que esteja cheio".
 Os guerrilheiros puseram as mãos em mais de 2 milhões e meio de dólares do cofre de Ana. "Esse dinheiro, roubado do povo, a ele será devolvido", disse a agência France Press o mais alto dirigente da Var-Palmares, Carlos Lamarca. 
Veja a foto falsa da Dilma com uma metralhadora que eu denunciei.
Veja os 7 erros da ficha falsa da Dilma

VAR-Palmares - Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
A VAR-Palmares nasceu entre junho e julho de 1969 da fusão da VPR com o Colina de Minas Gerais e a incorporação de um grupo do Rio Grande do Sul denominado União Operária. Dessa forma, reuniu um contingente bastante expressivo de militantes e adquiriu abrangência praticamente nacional. Em setembro do mesmo ano, no entanto, um setor importante rompeu com a VAR e reconstituiu a VPR, permanecendo na VAR os que consideravam necessário desenvolver um trabalho político mais significativo, porém sem abandonar as operações armadas. A debilidade da capacidade militar decorrente do racha e da forte repressão executada pela ditadura, com prisões em série, inviabilizou tal opção. A partir de então, o pequeno grupo de militantes que permaneceu na VAR passou a sustentar uma trajetória militarista. Em 1972, o núcleo mais forte de integrantes da organização começou a fazer parte da chamada “Frente Armada”, que logo depois ingressou na fase mais dramática do círculo vicioso de realizar ações apenas para a sobrevivência do aparelho orgânico clandestino.
Celso Lungaretti: Por dentro da VAR-Palmares
Celso LungarettiNum primeiro momento, a tendenciosidade com que a Folha de S. Paulo enfocou o fato prosaico de Dilma Rousseff ter sido guardiã de um envelope fechado com o endereço do arsenal da VAR-Palmares me irritou profundamente. Tanto que nem me preocupei em repassar as minhas recordações de 1969.
(Celso Lungaretti denuncia a tendenciosidade da Folha de S. Paulo ao abordar a relação entre a presidente eleita Dilma Rousseff e a luta contra a Ditadura MIlitar) Depois de escrito meu artigo, entretanto, refleti um pouco e me caiu a ficha sobre o motivo dessa medida. É que, em setembro daquele ano, três desafortunados militantes da VAR-Palmares tiraram o azar grande: seu veículo teve qualquer problema no Largo da Banana, à noite. Tratava-se de um logradouro muito vigiado pela Polícia comum, no bairro paulistano da Barra Funda. Não tiveram a prudência de abandonar o carro e ir embora, cada um para um lado. Ficaram tentando recolocá-lo em movimento. Despertaram suspeitas em policiais que passavam numa viatura. Houve troca de tiros, na qual morreram Fernando Borges de Paula Ferreira (o Fernando Ruivo) e Luiz Fogaça Balboni. O terceiro era João Domingos da Silva, o Elias, meu companheiro no Comando Estadual da VAR; ele liderava os grupos táticos, ou seja, as unidades de operações armadas. O Elias ficou gravemente ferido, mas sobreviveu. As bestas-feras da Operação Bandeirantes, entretanto, o submeteram a torturas antes de que os ferimentos estivessem suficientemente cicatrizados. Teve uma hemorragia e morreu. O companheiro, infelizmente, não tinha muito senso de organização: guardava as informações na cabeça. Perdemos aparelhos, armas e veículos que só ele sabia onde estavam. Como resultado houve um verdadeiro caos, tendo quadros procuradíssimos de ser amontoados nos poucos aparelhos que restaram. Ora, oAntônio Roberto Spinosa, do Comando Nacional, acompanhou de perto tal situação. Então, com certeza, deve ter sugerido a medida em questão, para diminuir a possibilidade de novas perdas. Ou seja, o local do arsenal provavelmente seria do conhecimento de apenas um ou dois militantes, incumbidos de retirar as armas quando necessitadas; e alguém do Comando -- no caso, a Dilma -- guardaria o endereço, lacrado, só abrindo o envelope no caso de queda(s). É ridículo a Folha, a partir desta providência rotineira, ficar buscando pelo em ovo. Ela não estabelece vínculo real nenhum entre Dilma e o uso que era dado às armas. Da mesma forma, quando foi adquirida a área inicial de treinamento guerrilheiro em Registro (SP), o Comando Nacional determinou que a propriedade ficasse em nome de um membro do Comando Estadual. Era desaconselhável ou impossível para os demais fazerem essa viagem, então acabou sobrando para mim, embora meu setor fosse o de Inteligência. No cartório de Jacupiranga, assinei a papelada sem ler. Não soube, naquele momento, nem sequer o nome da cidade. Olhava sempre para o chão. Até hoje os sites ultradireitista dão grande importância ao fato de que meu nome aparecia na escritura desse sítio. No entanto, àquela altura, eu não tinha envolvimento real nenhum com a tarefa principal (instalação do foco). Seria despropositado apresentarem-me como participante da guerrilha rural apenas por ter servido de fachada para a aquisição dessa área, assim como são despropositadas as prevenções que tentam criar contra a Dilma. Alguns meses mais tarde, devido a um fato novo (eu ter-me tornado, também, alvo importante da repressão), acabei integrando a equipe precursora incumbida de preparar a escola de guerrilha para receber seus alunos. Mas, esta é outra história.
Retirado do blog Náufragos da Utopia de Celso Lungaretti

PCBR - Partido Comunista Brasileiro Revolucionário
Em 1967, o grupo hegemônico no PCB consumou a expulsão de dirigentes contestadores da linha que vinha sendo adotada pelo partido. Entre eles, os futuros fundadores do PCBR, como Mário Alves (assassinado sob torturas, em janeiro de 1970, no Quartel do Exército, na rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro), Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender e Jover Telles. A proposta geral dos dissidentes consistia em repudiar alianças com setores da burguesia brasileira e estabelecer um governo popular revolucionário. Para tanto, o PCBR considerava estratégica a luta armada. A tática geral, entretanto, procurava um equilíbrio entre o militarismo e o pacifi smo característico do PCB, o que provocou fortes tensões internas e a saída de militantes. A pressão desses setores e o acirramento da repressão obrigaram o PCBR a reforçar a execução de operações para a obtenção de fundos. Em junho de 1970, a linha do partido foi reorientada para uma prática idêntica a dos grupos que constituíram a chamada “Frente Armada”, entrando na rotina de realizar ações apenas para angariar recursos. Em dezembro de 1972 e outubro de 1973, no Rio de Janeiro, membros do 3o Comitê Central foram chacinados pelos órgãos de repressão.
O historiador Jacob Gorender foi guerrilheiro do PCBR. Nesta entrevista ele fala sobre sua militância na luta armada e discute algumas polêmicas sobre a guerrilha no Brasil.

MOLIPO - Movimento de Libertação Popular
Nasceu em 1971, como resultado de uma luta interna ocorrida na ALN. Um grupo de 28 militantes exilados em Cuba rompeu com a direção da organização sob o argumento de que era preciso colocar em prática definições políticas de Marighella, que vinham sendo relegadas. Depois de realizar treinamentos de guerrilha, o grupo decidiu voltar ao Brasil e, ao chegar, uniu-se a militantes também descontentes com a organização. Foram elaborados, então, textos teóricos propondo uma reorientação das ações executadas na cidade por meio da criação de “comandos estudantis” que atuassem no plano tanto militar quanto político. As discussões culminaram no afastamento dos dissidentes, que constituíram a nova organização. No entanto, a atuação concreta do Molipo terminou sendo muito semelhante à da ALN: expropriação de bancos e armas, atentados a bomba etc. Em 1971, o grupo começou a ser atingido pela repressão, que jurava não deixar vivo nenhum dos militantes retornados de Cuba. As prisões continuaram em 1972 e em 1973, quando o Molipo se extinguiu.
BASE DO MOLIPO NO SERTÃO PERNAMBUCANO
Base do MOLIPO
Na zona rural de Itapetim, sertão pernambucano, permanece quase que intacto o sítio aonde um ex-dirigente do Movimento de Libertação Popular (Molipo) - posteriormente assassinado na Bahia pelas forças da repressão - sonhou instalar, no início dos anos 70, uma base rural para enfrentar a ditadura militar brasileira que por duas décadas comandou o País com mãos de ferro. Trata-se do Sítio Baixio, localizado a 02 quilômetros do centro de São Vicente, um distrito de Itapetim, município distante 430 km do Recife, a capital de Pernambuco.Propriedade típica dos sertões nordestinos - ou seja, praticamente sem benfeitorias, apenas uma pequena casa de tijolo aparente e um barreiro para juntar a água da chuva-, o Sítio Baixio é de tamanho modesto (cerda de 10 hectares) e entre 1971 e 1974 pertenceu ao advogado baiano João Leonardo da Silva Rocha, um dos 15 presos políticos brasileiros libertados em troca do embaixador americano Charles Burke Elbrick, seqüestrado pela guerrilha de esquerda em 1969. Banido do Brasil, ao retornar, João Leonardo se instalou ali.É claro que João Leonardo não chegou a São Vicente usando o seu nome verdadeiro. Ao adquirir o Sítio Baixio, ele se passava por José Lourenço da Silva, ou Zé Careca, apelido que ganhou da gente simples do lugar, pessoas como José Vital de Siqueira, o Zé de Vital, 63 anos, agricultor aposentado, que hoje lembra da vida no sítio do amigo: “Era um sítio igualzinho aos outros daqui. De vez em quando, ele chamava e nós ia caçar. Depois, ele ficava lá, cuidando de umas roçinhas bestas e ouvindo um rádio Siemens que ele tinha”.Quando teve que sair de São Vicente por suspeitar que os militares tinham descoberto o seu projeto (Veja no texto seguinte, a resumida biografia de João Leonardo da Silva Rocha), Zé Careca deixou o Sítio Baixio aos cuidados da companheira sertaneja com quem viveu um grande amor e disse: “Se eu não voltar, faça o que quiser com tudo isso aqui que também é seu.” Como João Leonardo jamais voltaria, Virgínia Paes de Lima (a companheira hoje também falecida) cuidou do sítio até vendê-lo ao atual proprietário, Geneci José de Siqueira.

COLINA - Comando de Libertação Nacional
Praticamente restrito a Minas Gerais, o Colina resultou da cisão ocorrida no 4º Congresso da Polop, em 1967. Os dissidentes criticavam o doutrinarismo da linha oficial e propunham a defesa de bandeiras democráticas como a Constituinte. Em maio de 1968, foi realizada uma conferência que aprovou algumas defi nições de ordem programática e estratégica, como, por exemplo, a defesa da “Libertação Nacional” como conteúdo fundamental da revolução brasileira, em contraposição ao “Programa Socialista”. No plano estratégico, sua proposta continha nítidas influências guevaristas. A base de seus militantes era constituída de estudantes ou ex-militantes do movimento estudantil. No início de 1969, a organização enfrentou uma série de prisões, que acarretaria numa grave desarticulação de sua capacidade operacional e na orientação da maioria dos remanescentes para uma aproximação com a VPR, que resultaria na fundação da VAR-Palmares. Nessa série de prisões, o aparelho de repressão inaugurou a montagem de farsas que seriam repetidas muitas vezes nos anos seguintes, forjando suicídios de presos políticos para tentar encobrir seus assassinatos sob torturas. Militantes do Colina, o sargento da Aeronáutica João Lucas Alves foi morto em Belo Horizonte, em março de 1969, e o sargento da PM da Guanabara Severino Viana Callôr, no Rio de Janeiro, em maio.
"A Luz que surgiu por trás da Colina"
Afonso Celso Lana LeiteAfonso Celso Lana Leite era estudante da Faculdade de Veterinária, hoje pertencente à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. Em 1967, montou uma chapa para concorrer ao Diretório Acadêmico (DA), com vitória consolidada. No dia da posse, o estudante, na época com 22 anos, propôs uma passeata contra a possível privatização da faculdade. “Eles queriam cortar a verba de pesquisas e isso inevitavelmente levaria a uma privatização. Basicamente, foi isso, mas a situação era muito maior”, disse Afonso. Depois de participar de manifestações ao lado de outros jovens, o estudante passou a ser perseguido. “Eu ia fazer prova e tinha professor me vigiando. Achavam que eu colava. Eu me envolvia nessas movimentações e minhas notas continuavam boas, mas eu estudava muito no fim de semana. Fui preso umas três vezes. Uma vez por agressão à polícia, que não era verdade.”Até que, em 1968, entrou no grupo guerrilheiro Colina, que dá nome ao filme e é sigla do Comando da Libertação Nacional. Um ano depois foi pego pelos militares e ficou por dois anos preso em Juiz de Fora (MG), passando por todos os tipos de tortura. “Saí porque um grupo de guerrilheiros seqüestrou um embaixador suíço e como resgate pediram a vida de 70 presos, eu estava no meio. Muitos morreram depois que saímos da prisão.” Pouco tempo depois, Afonso foi exilado para o Chile, onde estudou Artes Plásticas, conheceu sua esposa, Maria do Rosário, e foi perseguido também pelo governo do general Augusto Pinochet. De lá partiu para o segundo exílio, na Alemanha, onde nasceu a sua filha mais velha. Depois da anistia, em 1978, Afonso terminou seus estudos naquele país e voltou para o Brasil, desde quando passou a ser professor da UFU.Afonso analisa sua história como um mero espectador. “Para mim, não é sofrido, não, é como contar um caso. Duro é na hora, e também muitos passaram por isso. Só tem duas soluções para quem passa a experiência que eu passei. Ou você adquire força, ou você perde força. Eu adquiri.”

FALN - Forças Armadas de Libertação Nacional
No fim de 1966, dissidentes do PCB em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, juntamente com outros militantes, começaram a se constituir como organização independente, adotando o mesmo nome de um grupo guerrilheiro liderado por Douglas Bravo na Venezuela. De início, suas atividades se limitaram ao meio estudantil, com a produção e distribuição do jornal O Berro. Nos anos seguintes, assumiu claramente a teoria do foco guerrilheiro de Régis Debray e buscou recrutar assalariados rurais da região, geralmente vinculados ao corte da cana-de-açúcar. Entre seus quadros, o grupo contou com estudantes, intelectuais, operários, camponeses e religiosos, espalhando-se por dezenas de cidades na região. A FALN chegou a praticar algumas ações armadas em Ribeirão Preto. Em outubro de 1969, otorturador Sérgio Paranhos Fleury dirigiu-se à área para desmantelar o grupo. Mais de quinhentas pessoas foram presas e torturadas, entre elas, a madre Maurina Borges, submetida a torturas amplamente denunciadas em vários países.
Entrevista com a guerrilheira da FALN Áurea Moreti

POC - Partido Operário Comunista
O POC nasceu em 1968 como fusão entre a Polop e a Dissidência Leninista do PCB no Rio Grande do Sul, adotando como linha estratégica a base do programa da primeira. Com presença expressiva no movimento estudantil, inicialmente o POC não se envolveu na luta armada. Em 1970, entretanto, a organização passou a cooperar com organizações guerrilheiras. Em fevereiro do mesmo ano, uma parcela dos militantes se desligou do POC para reconstruir a Polop sob a sigla OCMLPO (Organização de Combate Marxista-Leninista Política Operária). A repressão do governo Médici terminou por atingir o grupo de maneira quase letal entre 1970 e 1971. Os setores remanescentes se dirigiram quase todos para o exílio, onde se constituíram, de início, dois agrupamentos distintos. Um deles, de nome POCCombate, persistiu na defesa da luta armada. O outro formulou um programa tático em que as lutas de conteúdo democrático ocupavam lugar central. No entanto, as duas tendências convergiram ao se aproximarem da IV Internacional, seguindo a vertente internacional do trotskismo ligada ao marxista judeu-alemão radicado na Bélgica Ernest Mandel
Polop-POC - Uma matriz das esquerdas
 Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio, foram militantes da ORM-Polop, posteriormente do POC e estavam entre os fundadores da OCML-PO, a nova Polop, após o rompimento com o POC, que decidira partir para a luta armada imediata em 1970.

Sete militantes ligados ao POC foram mortos pela repressão política no Brasil e no exterior. Um foi assassinado em São Paulo, em 1971, Luiz Eduardo da Rocha Merlino, dois no Rio Grande do Sul (Helio Zanir Sanchotene Trindade e Ary Abreu Lima e Rosa) e quatro outros foram mortos no exílio: Luiz Carlos Almeida e Nelson Kohl, no Chile, durante o golpe militar que derrubou o governo do presidente Salvador Allende, em 13 de setembro de 1973; e Jorge Alberto Basso e Maria Regina Marcondes Pinto (ligada na época ao MIR do Chile), na Argentina, em 1976. 
Nilmário Miranda, autor do livro Dos Filhos deste Solo, fala sobre a Comissão da Verdade
A história da Polop está contada da seguinte forma no Brasil: Nunca Mais: "Desde o seu surgimento, a Polop deu mais importância ao debate teórico e doutrinário dentro da esquerda marxista do que a um projeto de construir uma alternativa política ao PCB. Não chegou, dessa forma, a se constituir em uma organização nacional, embora tenha alcançado certo prestígio nos meios universitários dos três Estados já referidos e atraído para sua esfera de simpatia, ainda antes de 1964, militares ligados às mobilizações nacionalistas nas Armas.
Com permanente críticas às posições defendidas pelo PCB, a Polop recusava as opiniões daquele partido sobre a necessidade de uma aliança com a 'burguesia nacional' para vencer o 'imperialismo' e os 'restos feudais'. Elaborou, em contraposição, um 'Programa Socialista para o Brasil', no qual afirmava que o grau de evolução do capitalismo no país comportava e exigia transformações socialistas imediatas, sem qualquer etapa 'nacional-democrática'. 
livro dos filhos deste solo

 Após a derrubada de Goulart, a Polop ensaiou a definição de uma estratégia guerrilheira para enfrentar o novo regime, chegando a se envolver em duas articulações para a deflagração de um movimento armado, em aliança com os referidos militares vinculados ao 'nacionalismo revolucionário'. Ambas as articulações foram abortadas no nascedouro. A primeira ocorreu ainda em 1964, no Rio, ficando registrada com o irônico título de Guerrilha de Copacabana. A segunda, de maior expressão, em 1967, liderada por aqueles militares vinculados ao embrionário MNR, passou à história com o nome impreciso de Guerrilha de Caparaó.
 Em 1967, a Polop viveu em suas fileiras um impacto semelhante ao ocorrido no interior do PCB, por influência da luta guerrilheira que se alastrava pela América Latina sob a inspiração da Revolução Cubana e do guevarismo. Esse impacto acarretou duas importantes cisões. Em Minas, a maior parte dos militantes se desligou da Polop para constituir o Colina. Em São Paulo, uma 'ala esquerda' da organização se uniu a militantes remanescentes do MNR para constituir a VPR".
 Posteriormente, em meados de 1969, remanescentes da VPR e do Colina, se uniriam para formar a VAR-Palmares.
 Continua o relato do BNM (Brasil Nunca Mais): "Após as cisões que geraram a VPR e o Colina, essa organização restou claramente debilitada. Reagiu a isso, aproximando-se da Dissidência Leninista do Rio Grande do Sul (do PCB) e de mais alguns círculos de militantes, para constituir o Partido Operário Comunista (POC). O POC conseguiu ter certa expressão no Movimento Estudantil de 1968, onde atuava sob a designação de Movimento Universidade Crítica. Suas propostas políticas assinalavam uma nítida continuidade da linha seguida anteriormente pela Polop. Procurou também estabelecer alguma presença junto do meio operário das capitais.
 Em abril de 1970, um grupo de militantes se desligou do POC para voltar a constituir a Polop. Os que permaneceram no POC passaram a enfrentar divergências internas profundas, sendo que alguns círculos defendiam a atuação conjunta com as organizações da guerrilha urbana (ALN, VPR, VAR, etc.), chegando a se envolver em operações armadas.
 Entre 1970 e 1971, o POC foi atingido por vários golpes da repressão, sofrendo prisões de dezenas e centenas de militantes, principalmente em São Paulo e Porto Alegre, o que acabou comprometendo as atividades da organização no país a partir daí, não obstante alguns setores terem permanecido articulados no exílio.
Em 1970, um diminuto grupo de militantes se desligou do POC, no Rio Grande do Sul, para criar o MCR, que executou algumas ações armadas conjuntas com a VPR.
 Os que se rearticularam em 1970 sob a sigla Polop, por sua vez, condenaram as ações armadas e concentraram seus pequenos efetivos em um trabalho doutrinário junto dos operários, rebatizando sua organização para Organização de Combate Marxista-Leninista - Política Operária (OCML-PO).
No exílio, a OCML-PO editou, durante certo tempo, em conjunto com a AP Socialista e o MR-8, a revista de debates teóricos Brasil Socialista.
 Antes de essa nova Polop (mais conhecida como PO) completar 1 ano de vida, começou a se constituir dentro de suas fileiras, no Rio, a Fração Bolchevique da Polop que, em 1976, mudaria seu nome para Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP).
 Na pesquisa BNM foram estudados cinco processos relacionados ao Polop, somando perto de cem cidadãos envolvidos como réus. Já o POC foi objeto de oito processos estudados, distribuídos por São Paulo, Minas, Paraná e Rio Grande do Sul, reunindo mais de 200 pessoas atingidas como réus ou indiciados na fase de inquérito. O MEP foi detectado pelos órgãos de repressão em 1977, ocorrendo prisões e formando-se processos no Rio de Janeiro e em São Paulo".
 
Do livro: Dos filhos deste solo - Mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado
Autores: Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio
São Paulo, Boitempo Editorial/Editora da Fundação Perseu Abramo, 1999, pp. 509-511. 

PCdoB - Partido Comunista do Brasil
É comum apontar 1962 como o ano de seu nascimento, após a ruptura com o PCB, criticado por sua linha pacífica. Entretanto, o PCdoB sempre reivindicou ser o continuador autêntico do partido fundado em 1922. Ao adotar a fórmula maoísta do “cerco das cidades pelo campo” após o golpe, o partido passou a dedicar-se, entre 1966 e 1972, a implantar seus quadros no sul do Pará, processo que resultaria na “Guerrilha do Araguaia”, série de combates, choques, prisões, torturas e execuções sumárias que se estenderam até o final de 1974. Nos anos seguintes, o PCdoB conseguiu recompor seu aparelho partidário, enraizando-se de forma expressiva no meio estudantil. Em dezembro de 1976, no entanto, foi vítima da chamada “Chacina da Lapa”: execução de três altos dirigentes e prisão de vários outros de seus membros, localizados pela repressão em uma reunião clandestina em São Paulo. Em 1978, desvincula-se do maoísmo, mas mantém laços estreitos no campo internacional, durante alguns anos, com a Albânia. Nos anos 1980, atuou no âmbito do PMDB, elegendo quadros parlamentares. Após a Emenda Constitucional de 1985 que legalizou, depois de quarenta anos de banimento, a presença de partidos comunistas no sistema eleitoral brasileiro, o PCdoB consolidou-se como partido institucionalizado e portador de força política crescente no cenário nacional.
Renato Rabelo fala sobre a chacina da Lapa

Guerrilha do Araguaia
Entre 1972 e 1974, numa área de 7.000 km² à margem esquerda do rio Araguaia, no sul paraense, desenvolveu-se a chamada Guerrilha do Araguaia, sob a direção do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Seus militantes foram deslocados para aquela região entre 1966 e abril de 1972. Um número indeterminado de camponeses locais teria se juntado a eles. Assim, no início de 1972, havia quase setenta guerrilheiros, chefiados politicamente pelos dirigentes Maurício Grabois – conhecido na região como Velho Mário – e João Amazonas. Muitos deles usaram nomes falsos e todos assumiram ocupações comuns para se integrar à vida das comunidades. O historiador Jacob Gorender, no livro Combate nas trevas, informa que pouco mais de 70% dos militantes provinham da classe média, menos de 10% eram operários e cerca de 20% eram camponeses. Os combatentes tinham, em média, pouco menos de 30 anos. Seguindo a linha maoísta, o PCdoB defendia que a tomada do poder deveria começar em áreas rurais, ganhando a confiança da população e recrutando camponeses para, a partir daí, realizar o “cerco das cidades pelo campo”. No combate à guerrilha, o regime militar mobilizou, de abril de 1972 a janeiro de 1975, entre 3 e 10 mil homens, que se tornaram responsáveis pela metade do número total de desaparecidos políticos no Brasil. A primeira campanha militar teve início nos últimos dias de 108 março e princípios de abril de 1972, após uma operação de mapeamento realizada em fevereiro. Cerca de 2 mil homens foram utilizados, além de lanchas da Marinha e helicópteros e aviões da Aeronáutica. Os primeiros guerrilheiros aprisionados tiveram suas vidas poupadas e muitos moradores da região foram presos e espancados – pelo menos dois camponeses foram mortos. Em setembro de 1972, a ação repressiva foi retomada com um efetivo estimado entre 3 e 5 mil homens. Encerrada dois meses depois, deixou um saldo importante de baixas entre os guerrilheiros. Iniciou-se então um período de quase um ano de trégua, utilizado pelo regime para a execução da Operação Sucuri: o emprego de 53 agentes disfarçados, entre eles o major Curió, para um trabalho de inteligência que consistiu em mapear detalhadamente todo o teatro de operações e seus participantes. Em seguida, em 7 de outubro, foi desencadeada a terceira e última expedição contra a guerrilha: a Operação Marajoara, que mobilizou, além do efetivo já presente no local, entre 250 e 750 militares especificamente treinados para o combate direto aos guerrilheiros e apoiados por helicópteros e aviões. A ordem era não fazer prisioneiros. Implantou-se novamente o terror contra a população civil e os acampamentos da guerrilha passaram a ser atacados. Calcula-se que 47 combatentes desapareceram e apenas 25 permaneciam vivos em janeiro de 1974, sendo abatidos ou executados até 25 de outubro do mesmo ano. Há informações de que todos os corpos de militantes sepultados na selva foram desenterrados e queimados no topo da serra das Andorinhas, mas tal versão é contestada por alguns familiares dos desaparecidos. Além disso, novas pistas sobre o ocorrido com os combatentes da guerrilha foram encontradas nos relatórios produzidos pelas três Armas (Exército, Marinha e Aeronáutica) em 1993, a pedido do então ministro da Justiça, Maurício Corrêa.
Trailer do documentário Guerrilha do Araguaia - As faces ocultas da História 


PCB - Partido Comunista Brasileiro
Fundado em março de 1922, o PCB esteve, em seus primeiros passos, vinculado às concepções da Terceira Internacional, convocada por Lenin em 1919. Em 1935, promoveu um levante insurrecional em vários quartéis do país, mobilizando as fortes bases que adquiriu entre os militares após o ingresso no partido de Luís Carlos Prestes, lendário líder tenentista que comandou uma espécie de coluna guerrilheira que se deslocou por milhares de quilômetros no interior brasileiro entre 1925 e 1927. Nos anos que antecederam o golpe militar, a linha seguida pelo partido (em 1962, um setor dissidente formou o PCdoB) propugnava uma estratégia de transição pacífica para o socialismo que envolvia alianças com setores da burguesia nacional. Apesar disso, com o golpe, muitos de seus dirigentes foram presos e torturados e seu aparelho sindical foi desmantelado. O debate que se seguiu sobre as razões da derrota polarizou-se agudamente, causando novas e importantes dissidências, como a ALN. O PCB passou então a defender a necessidade de manter uma atividade defensiva. Assim, o partido ficou relativamente resguardado da repressão; mas o regime decidiu aniquilá-lo quando constatou que havia esmagado as organizações guerrilheiras. No triênio 1974-76, o partido foi vítima de feroz repressão em todo o país. Entre os assassinatos de seus dirigentes e apoiadores, provocaram forte impacto os do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do operário Manoel Fiel Filho, em janeiro de 1976. Também causaram comoção os desaparecimentos de Davi Capistrano da Costa, Luis Inácio Maranhão Filho e outros membros de seu Comitê Central, durante o governo Geisel.
Cenas do filme OLGA 

Vídeo em homenagem a Vladimir Herzog
Veja o vídeo sobre a Intentona Comunista de 1935

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