segunda-feira, 25 de março de 2013

Coisa de macumbeiro?




Por Fernanda Moura* 

A intolerância nas religiões de matriz africana ainda é muito forte em nossa sociedade. Embora assegurada pela Constituição Federal vigente em nosso país, a liberdade às crenças e religiões, na prática tudo é bem diferente, os religiosos, principalmente de matriz africana ou afro-brasileiras são vítimas constantes de práticas intolerantes.

Para muitos, tudo que é ligado ao Candomblé é tido como coisa de macumbeiro, devido ao preconceito existente em nossa sociedade, por causa da cor da pele ou da religião. Mesmo o Estado sendo laico, essa é realidade vivida pela maioria das pessoas que participam de manifestações matriz africana.

Situações que reforçam a discriminação em relação à manifestação que foge do padrão branco de nossas elites, apesar de o Brasil ter predominância negra, segundo inclusive o último senso do o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A tradicional manifestação que ocorre, geralmente no dia 08 de dezembro, feriado nacional de Nossa Senhora da Conceição, sincretizada como Iemanjá para os praticantes de candomblé, é uma prova da repressão e o preconceito por parte da prefeitura de Maceió/AL, que delimitou local e horário para a liberdade de se ter fé.

Que os adeptos são discriminados e ofendidos por conta da religiosidade já estamos cansados de saber. Mas houve um tempo em que não se ouvia mais falar sobre ela, onde as casas de axé e todas as manifestações culturais ligados a ela foram silenciadas.

A motivação para tal ato foi disputa política, que resultou no fechamento violento dos terreiros e no dia 02 de fevereiro de 1912. Adeptos do candomblé foram brutalmente espancados, as imagens de culto foram destruídas na calada da noite e uma das importantes babalorixá, chamada Tia Marcelina, foi assassinada na cidade de Maceió/AL.

Ninguém pode ser discriminado em razão de credo religioso. Entendemos como intolerância religiosa a falta de vontade ou habilidade em respeitar as diferenças. Essa atitude ofende a dignidade da pessoa humana. Olhe que estamos falando de um País miscigenado, onde todos temos um pouco de negro, de branco, de mulato, de índio, e onde atitudes preconceituosas deveriam ter deixados de existir há muito tempo.

Se a intolerância religiosa não for combatida em nossa sociedade, corremos o risco de, na prática, não existir Estado laico. Aceitar uma convivência respeitosa e tolerante não significa passar a professar ou compartilhar a crença em questão, mas garantir o espaço necessário para que aqueles que o quiserem o façam e sintam-se confortáveis, respeitados nesta escolha.

*É estudante de Jornalismo

FONTE:
 Blog do Cadu

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